sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Moral, ética e Engenharia


Nos últimos meses tem crescido a discussão de como programar máquinas e sistemas para tomar decisões morais. O debate vem sendo impulsionado pelo desenvolvimento dos carros autônomos: como programá-los? Como reagir em situações em que evitar o acidente não é uma opção? O MIT (Massachusetts Institute of Technology) criou uma plataforma de pesquisa em que você pode ajudar os engenheiros a decidir qual será a programação desses sistemas, expondo o internauta a possíveis cenários de decisão, como escolher entre o carro atropelar um grupo de pessoas, ou desviar e bater em uma barreira, matando todos os passageiros. O teste, além de nos dar uma real dimensão da dificuldade que é fazer uma escolha como essa, nos mostra quais valores ou qualidades consideramos mais valiosos em uma pessoa. Você pode participar da pequisa no link: http://moralmachine.mit.edu/.
Exemplo do teste realizado pelo MIT

A Mercedes Benz já tomou essa decisão. Eles declararam que vão prezar pela segurança dos passageiros do veículo, em todas as situações! A empresa afirmou que não se pode garantir a segurança dos pedestres com efeitos secundários ao acidente. Por exemplo, o carro pode desviar, bater em um poste, mas volta para a pista e atinge os pedestres da mesma forma. Porém, eles afirmam também que o trabalho dos engenheiros é justamente fazer com que essas situações não venham a acontecer. É claro que para todas essas situações não existe uma resposta "certa", mas é inegável que é uma decisão que exige responsabilidade
Mas qual tem sido a responsabilidade e o senso de ética dos Engenheiros da nossa área, a Engenharia Civil? No dia 5 de novembro de 2016 fez um ano desde que ocorreu o acidente causado pelo rompimento da barragem da SAMARCO. De lá para cá pouca coisa mudou, a empresa continua recebendo notificações e buscando tomar as "medidas cabíveis". Como se não fosse suficiente, em um recente levantamento realizado pelo Ministério Público Federal acusou que mais de 50% das barragens de mineração estudadas tem o potencial de provocar danos maiores ou iguais aos provocados no rompimento. Basicamente, o desastre não foi o suficiente para que medidas mais rigorosas sejam tomadas em relação a segurança dessas barragens.
Consequências do desastre da barragem da SAMARCO
O exemplo ilustra bem a negligência dos profissionais responsáveis. Mas esses casos de falta de responsabilidade e bom senso são bem mais comuns do que é divulgado. O profissional que assina um projeto não executado por ele, sem ao mínimo revisar o mesmo é uma manifestação clara dessa patologia dentro da formação do engenheiro civil.
Nessas horas é um tanto quanto inevitável olhar para a Universidade, afinal, de lá que saem os engenheiros. Durante nossa formação são poucas as oportunidades que temos de entender e explorar a responsabilidade social e ambiental do engenheiro civil. Nas grades curriculares são raras as aparições de matérias que abordem tais temas, e quando aparecem  são mal estruturadas e negligenciadas. Uma vez que o processo de atualização curricular é bastante lento e burocrático, uma das medidas que podemos tomar de forma mais imediata é fomentar discussões envolvendo temas como a responsabilidade social e ambiental do engenheiro. Grupos PET e Centros Acadêmicos são entidades que podem (e devem) puxar esses debates, buscando agregar essa reflexão na formação dos estudantes, preparando melhor os futuros engenheiros e engenheiras.
E na sua instituição, como o tema é tratado? Quem sabe essa seja uma boa hora de puxar essas discussões!

Referências:

http://www.businessinsider.com.au/mercedes-benz-self-driving-cars-programmed-save-driver-2016-10

http://istoe.com.br/mpf-aponta-risco-na-maioria-das-barragens-no-pais/


http://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2016/11/epoca-negocios-1-ano-depois-de-mariana-onu-diz-que-acoes-sao-insuficientes.html